hang up

o telefone dele toca...
- ei, to aqui embaixo. desce que a gente precisa conversar.
sem nem esperar resposta, ela desliga. toma mais um gole de stella, ajeita o cabelo e acende o cigarro.
sete minutos é o tempo que ela demora pra fumar um inteiro. três, é o número dos minutos que se precisa pra botar o tênis e descer. quando deu a última tragada, pronta pra ligar o carro e sair, a porta do prédio abriu.
- oi, querias falar comigo?
- entra...
ele olha exitando. evitando. pensa por alguns segundos mas cede. abre a porta do carro, bota o cinto e abre a janela enquanto pega o zippo pra acender o seu cigarro.
ela dirige até a beira da praia, meio trêmula, meio feliz. completamente agitada e aflita.
pega o cobertorzinho pra se proteger da brisa do inverno, abre a porta e volta o olhar pra dentro do carro.
- vem?
com o mesmo cigarro entre os dedos ele segue, incomodado e incerto, como realmente havia de ser.
ela senta cuidando pra nao se sujar. ele puxa a calça, como de costume, e senta também. ainda que um tanto quanto afastado.
- eu pensei muito em como conseguir ter essa conversa. nao achei um jeito certo. só errados. entao resolvi "brincar".
vira a garrafa de stella como que pra encorajar.
- verdade ou consequencia?
- verdade? - com um ar de desconfiança...
- por que tanto ódio?
- nao é ódio...
- verdade!
- por que tanto erro?
- foram atos falhos, nao erros...
- verdade.
- por que a indiferença?
- nao sei. por conforto? preservaçao?
- por que a insistência?
- por amor.
- tu nao sentes mais nada?
- prefiro a consequencia...
- me beija, entao.
e sem dar nem tempo pra que houvesse a resposta, ela roubou logo o beijo.
ele ficou estático. assustado.
ela se afastou enquanto o olhava exatamente nos olhos. ambos mudos. a praia vazia.
ambos se inclinaram de imediato, em direçao um ao outro, num beijo meio que desesperado. as roupas cairam longe por conta do vento, de quem nem lembravam mais.
ela ignorou a areia, ele ignorou o pudor. o rancor. o amor.